Ser Independente

 
Independente é o termo utilizado para definir todo e qualquer artista que desenvolva seu trabalho por conta própria, sem contratos com grandes corporações da indústria cultural. Ou seja, artistas que, além de criar arte, também são os responsáveis por produzi-la e promovê-la de todas as maneiras. Os Indies. O que os punks dos anos 70 já pregavam com o seu mote “do it yourself”e que, hoje, está se tornando a melhor opção para artistas já consagrados e iniciantes, em todo o mundo. 
Esta mudança no modo de operação do mercado não tem um ponto de origem definido, na verdade é um retorno ao início histórico da produção artística, com várias situações e expoentes surgindo em várias épocas e de várias linguagens. Porém, esta configuração se tornou todo um mercado paralelo ao mercado cultural tradicional, por assim dizer, tendo como carro chefe a revolução que as tecnologias digitais trouxeram principalmente para a música e, em seguida, para o audiovisual. 
No início da produção fonográfica, os recursos disponíveis para gravação, edição e distribuição do material musical produzido era muito pouco acessível pelo preço, pelo espaço que ocupava e pela dificuldade técnica em operá-los; eram recursos toscos e muito limitados, que somente uma grande empresa poderia dispor. Este panorama se aplica também a diversas outras linguagens artísticas, mas vemos este efeito de maneira mais gritante ainda em se falando de cinema, por exemplo. 
Com o grande avanço da tecnologia, no fim do séc. XX, os meios para produção deste tipo de material foram tornados mais simples ao manuseio, mais acessíveis e mais eficientes, com cada vez mais recursos disponíveis em termos técnicos e artísticos, propiciando o fenômeno dos Home Studios, das produtoras independentes e de leis que obrigam as emissoras a conter um percentual de conteúdo independente em suas programações. 
Hoje, sem um investimento tão miraculoso, é possível produzir um álbum musical de alta qualidade em casa. Fazer um filme com o telefone celular. Documenta-se uma apresentação de teatro com facilidade, com qualidade e poucos investimentos. Podemos transmitir ao vivo pela internet. Os artistas visuais já se utilizam de diversas ferramentas e diversas formas de mídia para compor e divulgar seus trabalhos - sem precisar de um investidor. Além disso, a internet se tornou o maior distribuidor de conteúdos artísticos da história do homem; sites como o soundcloud, ou o youtube, por exemplo, são hoje a maior vitrine de novos artistas que jamais existiu. 
Os blogs e redes sociais que disponibilizam conteúdos para apreciação e para download em volumes gigantescos, fizeram com que se conhecesse muita coisa que até então estava esquecido, fazendo com que a variedade de gêneros, ferramentas, linguagens e influências da arte independente sejam quase ilimitadas. 
Com a conjunção destes e de outros fatores, está se configurando esse novo modelo, que acreditamos ser um caminho muito rico a se trilhar, uma nova etapa que está surgindo para talvez substituir definitivamente o antigo modelo das grandes corporações e dos meteóricos artistas do main stream comercial, através da instauração de um novo olhar de quem produz, de quem financia e de quem consome cultura. Sem a pressão do mercado, os artistas podem trabalhar de acordo com suas aspirações artísticas e construir trabalhos mais sólidos, mais criativos e mais interessantes, elevando a qualidade e a variedade do mercado. Mas, por mais contraditório que pareça, não dá pra ser independente sozinho: daí surgem os conceitos de produção colaborativa e de economia solidária.